Johanna Liesbeth Kubelka Döbereiner – A Pesquisadora que Revolucionou a Agricultura

Johanna Döbereiner nasceu em Aussig, atual República Tcheca em 1924, e
naturalizou-se brasileira em 1956. Seu pai, que era físico-químico, mudou-se com a
família para a Praga quando Johanna ainda era pequena e foi professor de Química na
Universidade de Praga. Entretanto, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, a
população de língua alemã foi intensamente perseguida na Tchecoslováquia e sua mãe
faleceu num campo de concentração. Johanna, foi então com os avós para a Alemanha
Oriental, onde trabalhou numa fazenda. Com a morte dos avós, conseguiu reunir-se, na
Bavária, ao pai e outros parentes, e trabalhou inicialmente numa pequena propriedade
rural e, depois, numa fazenda maior, que produzia variedades melhoradas de trigo.

Apesar de todas as dificuldades por que passou na sua infância e anos iniciais de
sua juventude inicia, em 1947, o curso de Agronomia na Universidade de Munique, onde
conheceu o estudante de Medicina Veterinária, Jürgen Dobereiner, com quem se casou
em 1950 e teve três filhos. A conselho do pai de Johanna, que já havia emigrado para o
Brasil, o casal decide então vir para o nosso país. Em março de 1951, Johanna foi
contratada como assistente de pesquisa do Dr. Álvaro Barcellos Fagundes, na época
diretor do Serviço Nacional de Agropecuária (SNAP) e passou a trabalhar no Laboratório
de Microbiologia de Solos. O SNPA posteriormente se transformou na Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), onde ela trabalhou até o de sua vida. Em 1956, se naturalizou brasileira. Teve três filhos, Maria Luisa (Marlis), Christian e Lorenz, e dez
netos.

As pesquisas de Johanna Döbereiner se voltaram para o problema da fixação
biológica do nitrogênio (FBN) através da raiz das plantas tendo como intermediárias
certas espécies de bactérias. A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é um dos processos
naturais mais importantes do planeta, ao lado da fotossíntese. O nitrogênio é um nutriente
essencial e exigido em grande quantidade pelas plantas. Na FBN o nitrogênio presente no
ar (N ) é transformado em formas que podem ser utilizadas pelas plantas. Esse trabalho é
realizado por bactérias presentes no solo, ou adicionadas por meio da prática da
inoculação. Em termos de agricultura, a simbiose entre bactérias fixadoras de nitrogênio
(denominadas rizóbios) e plantas leguminosas (soja, feijão, ervilha, amendoim, entre
outras) é a mais significativa. Essas bactérias, quando em contato com as raízes das
leguminosas, induzem a formação de bolinhas, chamadas nódulos, onde ficam alojadas.
No interior dos nódulos ocorre o processo de aproveitamento do nitrogênio do ar.[1] [2]

Em 1964, chamada a participar da Comissão Nacional da Soja, cujo cultivo estava
se iniciando no Brasil, ela defende seus resultados sobre FBN e consegue convencer a
Comissão das suas vantagens econômicas e ambientais. A essa decisão deve-se a enorme
expansão do cultivo da soja em nosso país. Esse método aumentou a produtividade e
reduziu os custos da soja brasileira, representando uma economia anual de 1 bilhão de
dólares em fertilizantes nitrogenados caso se tivesse adotado o método químico de
fertilização em lugar do método FBN proposto por Johana.

Johanna aplicou esse método ao cultivo da cana de açúcar e os bons resultados
obtidos permitiram a implementação do programa PROALCOOL. Além disso, as pesquisas
de Johanna levaram o Brasil tanto a diminuir os custos como aumentar a produtividade de
diversas leguminosas e contribuíram para uma menor poluição do meio ambiente.

Foram quase 50 anos de carreira e mais de 25 prêmios e homenagens oficialmente
registrados – um montante que definitivamente não é para qualquer um. Johanna
ultrapassou fronteiras: não foi apenas membro da Academia Brasileira de Ciências, mas
integrou a Academia de Ciência de Nova York e chegou também ao seleto grupo dê
cientistas integrantes da Academia de Ciências do Vaticano – cargo no qual tomou Posse
em 1978. Dentre os prêmios, também não ficou restrita ao território brasileiro: foi
reconhecida pela UNESCO, pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pela

Academia de Ciências Agrícolas da Índia, pela República Alemã e pela Sociedade
Mexicana de Microbiologia. Em 1999 foi indicada para o prêmio Nobel de Química. Mas sua
maior satisfação – dizem os amigos mais próximos – não era contabilizar prêmios e
homenagens, mas poder olhar para trás e enxergar uma contribuição verdadeira, por meio
de sua pesquisa, para a adoção de práticas mais sustentáveis na agricultura. [3][4].

Finalmente, podemos afirmar que a brilhante carreira científica de Johanna
Döbereiner é um dos mais claros exemplos de que as mulheres de valor já têm seu lugar
assegurado na sociedade brasileira e internacional, apesar de muitas dificuldades
inerentes ao gênero.

Fontes:

[1] https://www.embrapa.br/documents/1355008/0/Folder+tecnologia+FBN/72690c5d-c076-4f9f-b48a-7f6ebec0183d

[2] https://www.youtube.com/watch?v=3mNFevjSq2s (imperdível)

[3] https://www.embrapa.br/johanna-dobereiner/premios-e-homenagens

[4]http://www.cnpq.br/web/guest/pioneiras-view/-/journal_content/56_INSTANCE_a6MO/10157/902973

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